segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Veja o que rolou no Webnário Mobilização e Coragem: reflexões sobre a educação



Veja aqui o que rolou no 1º Webnário InovarEduca - Mobilização e Coragem: reflexões sobre a educação, evento gratuito que aconteceu no dia 15/09 desse ano, em formato online, com a participação do artista, escritor e ativista brasileiro Hernani Dimantas, Doutor pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, e Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e do Prof. Dr.Miguel Sacramento, Engenheiro pela USP, especialista em Administração pela FGV, doutor pela USP, consultor nas áreas de Operações e Estratégia em empresas de diversos segmentos e professor da EAESP/FGV).
Esse Webnário faz parte de um processo em andamento pelo InovarEduca e pretende estender a discussão para outros eventos e atividades, acerca da Qualidade da Educação (rumos, sentidos, problemas, etc) entre todos os interlocutores interessados nessa questão. Ninguém mais duvida de que é preciso encontrar novos rumos para a educação, ela não responde mais aos anseios e necessidades de alunos, professores e da sociedade em geral.
O trabalho realizado teve como objetivo ouvir, além de colocar questionamentos. Todos que acompanharam puderam interagir com críticas, sugestões ou perguntas, por meio das redes sociais e do chat do livestream.
A partir de três objetos-documentos pretendemos conversar sobre os atores sociais do sistema educacional, suas relações e como eles têm sido incluídos/excluídos do grande debate sobre a qualidade da educação no país.
Para o debate também foi realizada uma pré-avaliação de 100 artigos que tratam sobre a qualidade da educação no Brasil e no mundo, e que tipo de representação os artigos acadêmicos têm dado aos atores sociais educacionais, como os professores, os diretores e estudantes.
O filme La Educación Prohibida teve uma intensa e rápida repercussão na rede pelo mundo todo, o que demonstra uma preocupação clara e forte com a educação em âmbito mundial. O filme começa tratando sobre o ensino em Atenas (Grécia) que era desenvolvido por meio de experimentos, em pontos de encontros entre os jovens e os mais experientes, em que a vida e a aprendizagem andavam juntas. Por outro lado, em Esparta, o ensino foi desenvolvido com técnicas militares em que eram empregados castigos e torturas para todos que não acompanhassem as regras previamente impostas.
Esse último modelo se desenvolveu e hoje temos um processo em linha que coloca o jovem em uma ponta da educação e devolve esse jovem à sociedade ao final do “processo” já formado e pronto para o mercado. Esse modelo serviu até a Revolução Industrial em que o ensino possuía uma data de término, uma vez formado o indivíduo podia seguir com sua profissão e dificilmente teria que estudar qualquer outra coisa até o final de sua vida. Esse cenário muda fundamentalmente a partir da entrada da Web na vida das pessoas de forma extensa. O trabalho de inúmeros estudiosos, dentre eles Manuel Castells, reflete o impacto da entrada da web e das redes sociais na vida das pessoas e as mudanças nas relações sociais, econômicas e culturais entre os indivíduos e grupos.
Passamos de um modelo em que um produz e muitos consomem, para um modelo denominado por alguns como “prosumer”, em que muitas pessoas produzem e consomem. As mesmas pessoas que produzem também consomem em grande quantidade, o que torna a participação das pessoas na rede internet completamente diferente e com profundos impactos nas relações sociais. E não poderia ser diferente na escola. Aquele que sabe e obedece merece o crédito. Esse modelo está se dissolvendo.

No filme um aluno questiona seus professores sobre que sentido existe em frequentar a escola todos os dias, quem se é e o que o professor está realmente fazendo ali. Esse discurso aparece por diversas vezes na fala de Isadora Faber, criadora do Diário de Classe no Facebook. O mundo mudou: o quer era não é mais, e o que vai ser ainda não se configurou. A função da escola está em crise.
As abordagens pedagógicas tratadas no segundo blog do Webnário tratarão sobre pensamentos de diversos estudiosos como Paulo Freire, Maria Montessouri entre outras possibilidades, e sobre a criatividade, elemento tão valorizado na atualidade e que não consegue ser desenvolvido no modelo de educação tradicional. Ela é literalmente abortada, deletada e atrofiada. Pesquisas já comprovaram que crianças por volta dos 5 ou 6 anos de idade possuem um potencial de criatividade intenso que vai se perdendo com o tempo, quando não é incentivado. E isso será extremamente danoso para esses indivíduos quando cresceram e forem cobrados pela própria sociedade que o criou para desenvolver suas habilidades criativas e potenciais na solução de problemas em um mundo contemporâneo que tornou extremamente dinâmico, mutante e imprevisível em tantos aspectos.
Miguel Sacramento reflete sobre o documentário Segredos de Estado, que aborda uma unanimidade global acerca da “lei da mordaça” aplicada aos funcionários de escola (incluindo seus professores e diretores) impedindo-os de criticar ou revelar quaisquer situações dentro das unidades educacionais. O alto grau de insatisfação com a educação tem uma raiz. O documentário externa repetidamente a vontade dos professores em expressar sua insatisfação.

O processo de ensino e aprendizagem, na história do ser humano, ocorre diante de uma pressão adaptativa que move o indivíduo e os grupos a buscarem novos conhecimentos para a sobrevivência. Olhando de modo profundo a sociedade como um todo existiram cinco grandes grupos de atores sociais. O primeiro foi o grupo militar que usava o ensino para incutir seus ensinamentos. Depois de um tempo surge o grupo religioso que incute a fé. Posteriormente o governo usou o sistema educacional para incutir os seus fundamentos. Com o surgimento da Revolução Industrial o sistema educacional foi empregado para incutir o pensamento das empresas, convencendo a humanidade a sair do contato com a natureza e acostumar-se com a cidade “aprendendo” a ficar confinado em um local fechado por várias horas seguidas. Essa é a rotina da indústria, das empresas.
Durante toda a história da humanidade o processo de educação apenas serviu aos grupos de poder. A educação em si nunca exerceu poder. Miguel cita o pensador Michel Porter que em 1990 disse "Recomendaria aos governantes dos países mais desenvolvidos que parem de tentar proteger suas indústrias e passem a investir em educação, a matéria prima do futuro”.
O que vai tornar os países e empresas poderosos é o grau de conhecimento que eles possuirem. E o processo de ensino-aprendizagem de hoje não leva a nada, não exerce poder ainda. O nosso processo atual ainda está formatado para a Revolução Industrial.
O presidente de uma multinacional holandesa destacou certa vez que em sua empresa: “O grupo de trainees é fantástico, são limítrofes mas bilingues”. As universidades formam pessoas com altos graus de deficit educacional, mas que buscaram por conta estudar outras habilidades que complementassem seus estudos. A iniciativa do estudante está acima do modelo de ensino das universidades, pois a necessidade do mercado exige um ensino que ele o aluno não tem obtido durante o ensino formal e universitário, e não é o o que as empresas precisam.
A idade dos porquês...
A criança nasce com o espírito pesquisador, e o que foi tirado delas precisa ser devolvido. Quem comanda o processo educacional é o meio político. Ele precisa divulgar as crenças do seu partido de tempos em tempos e a escola é usada para isso. Ensino-aprendizagem e educação são coisas diferentes. A educação começa em casa e a escola não deveria investir e perder tempo para resolver essas questões.
No sistema educacional, assim como nas empresas, se um funcionário critica o seu superior ele é mandado embora. Essa foi a lei da mordaça tratada no documentário Segredos de Estado.
Hernani Dimantas falou sobre o Diário de Classe e a iniciativa de Isadora Faber, e que ela não precisou pedir permissão para ninguém para publicar na internet. Ela sabe filmar, fotografar, usar a internet, e expor suas opiniões. E o que isso significou para Isadora?
Isadora Faber
Ela conseguiu com que a Secretaria da Educação resolvesse algumas das questões que ela queria para a sua escola, embora as ações consequentes à criação da página sejam um pouco maqueadas, provavelmente pela repercussão que a sua iniciativa teve.
De forma semelhante Linus Torvald, aos dezoito anos de idade, quebrou os paradigmas vigentes na época, quando disponibilizou na internet, de forma aberta e gratuita o Linux. Quebrou-se o monopólio de uma das maiores empresas de informática de todos os tempos, a Microsoft.
Essa é a política das multidões, as pessoas juntas têm poder e um poder diferente. Esse modelo que Linus inaugurou, e colocar no campo de força para que todos pudessem copiar, editar, melhorar, etc, surtiu efeito também na educação. As pessoas estão conversando, criando redes, apropriando-se da autonomia e das tecnologias, para interagir com o mundo e exporem suas criações, suas ideias e opiniões. E também consumir tudo o que se quiser.
Linus Torvald
Linus Torvald

Essa mudança de paradigma provoca um efeito diferente, inaugurado pelos softwares livres: uma nova relação de aprendizagem. Os programadores se encontravam nas redes, em fóruns, suportados pela rede, para conversar, trocar informações e produzir coletivamente, resolver questões, entre tantas possibilidades.
E essa rede tem se tornado em uma rede de afeto em que se compartilha por generosidade, pelo entendimento do poder da coletividade e da produção local em benefício da comunidade.
Elas aprendem em rede porque entendem o porquê de aprender, e isso envolve a troca, algo mais do que simplesmente uma rotina traçada. As pessoas estão indo atrás do que querem, estão mostrando o que querem mudar, o que precisa mudar. Essa transformação social é inexorável. E com a web fica mais fácil descobrir projetos que estão acontecendo, problemas pelo mundo, questões políticas nacionais tornam-se mundiais.
Precisamos pensar em como podemos estar em rede e articular os interessados na educação para mudar, mas não institucionalmente, porque o MEC não quer mudar, então precisamos ir por outro caminho. E não estamos falando de tecnologia nas escolas, mas sim das pessoas. Tecnologia é mato, ela nasce em todo o lugar. É preciso repensar as relações entre as pessoas dentro do contexto da educação.
Para acompanhar o debate, as perguntas realizadas por internautas e as respostas, acesse a gravação, aqui.

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