sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Kzam!


João Kzam
João Kzam

Conheça o tio Google e saiba mais sua pesquisa sobre buscadores na internet
Conhecido como o Tio Google ou Googleman, João Kzam é formando em Tecnologia de Administração de Redes de Computadores pela União Educacional de Brasília (UNEB), é palestrante sobre o uso de motores de busca de conteúdo na internet há sete anos.
Nascido em 2009 o Bing, uma versão moderna do atual Live Search (antes conhecido por Live, Windows Live Search e MSN Search), foi lançado pela empresa Microsoft com certo atraso em relação ao Google e ao Yahoo!, e embora tenha chegado a ficar em segundo lugar entre os buscadores mais utilizados, não superou ainda sua popularidade e eficiência segundo João Kzam e muitos outros usuários. O diferencial do Bing é o painel de edição de pesquisa que trabalha com uma opção de busca por sugestões, divide sua busca por assuntos como saúde, viagens, compras, etc, e a partir da tecnologia semântica PowerSet, desenvolvida para uma linguagem natural para a internet.
O Google já existia a essa altura. Diferente do Bing o Google começou a ser projetado a partir da teoria do PageRank, ou seja, baseava o resultado de suas buscas pela quantidade que um termo aparecia na primeira página. Esse sistema funcionava a partir dos backlinks(links de entrada para um site) que podem estimar a importância de um site. Fundado em 1998, por Larry Page e Sergey Brin, a empresa Google possui uma extensa lista de produtose possibilidades de conexões com redes sociais e aplicativos.
“Além disso, a publicação 2600: The Hacker Quarterly compilou uma lista de palavras que a nova ferramenta de pesquisa instantânea do gigante da web não irá procurar. O site "Google Watch" também criticou os algoritmos do PageRank, do Google, dizendo que eles discriminam novos sites e favorecem os já estabelecidos, também foram feitas acusações sobre as conexões entre a Google, a NSA e a CIA. Apesar das críticas, o motor de pesquisa básica já se espalhou para serviços específicos também, incluindo um motor de busca de imagens, os sites de busca Google News, Google Maps e muito outros”. (Wikipédia)
Em março desse ano o Google anunciou que incorporaria recursos da web semântica em suas buscas, no entanto desde muito antes já tinha pretensões de desenvolver essa tecnologia. E não vamos nos esquecer do buscador Wolfram|Alpha, que tenta criar um novo conceito em busca também.
Mas afinal, quem é o melhor?
Em setembro desse ano o Buscador da Microsoft, Bing, lançou um desafio: a campanha "Bing It On". O desafio era um teste cego para os usuários escolherem qual dos buscadores seria o mais eficiente. Para participar bastava digitar um termo qualquer no campo de buscas e clicar em “Search”. Os resultados dos dois buscadores eram posicionados um ao lado do outro, mas sem identificação, e o usuário poderia escolher aquele que fosse mais satisfatório ou escolher os dois como empate. Depois de cinco rodadas o buscador vencedor era anunciado.

João Kzam não poderia ter deixado de fazer o teste, e ao ser perguntado sobre o resultado, não hesitou: “O melhor, sem dúvida é o Google. A equipe InovarEduca perguntou se entre o Google e o Bing, existia um vencedor.
Acompanhe a entrevista completa com João Kzam:

Existem buscas que você recomenda que sejam feitas ou no Google ou no Bing? Por exemplo, o Bing é melhor para artigos e o Google é melhor para imagens, existe algo assim?
Não existe alternativas de busca, ou você usa o que gosta ou usa o melhor. Gostar passa a ser uma consequência da sua satisfação com os resultados obtidos. Nas tentativas e experiências que fiz com o Bing, ele fica atrás do Google com uma gigantesca distância.
Qual o buscador que você mais usa? Por quê?
Uso unicamente o Google. Por que com ele tenho integração com outras funcionalidades que não só a busca web. Outras aplicações instrumentalizam a busca e potencializam seu uso. O que não teria se utilizasse outro motor de busca.
O que você acha do Bing?
É mais uma iniciativa tardia da Microsoft de se inserir numa área (busca) que não tinha dado crédito anteriormente. Com a bem sucedida ação do Google no setor, tenta conseguir sucesso.
A web semântica desenvolve um trabalho para melhorar o sistema de busca, estudando e compreendendo as intenções por trás de cada termo ou conjunto de termos associados em uma pesquisa, de forma a identificar o que o usuário realmente está buscando. Exemplo: maçã. Pode ser a fruta, pode ser maça do amor, pode ser o símbolo da empresa Apple. Qual buscador atende melhor as suas necessidades e traz os resultados mais corretos em suas pesquisas?
O Google é o que melhor trata a questão da web semântica, justamente por causa da integração dos sistemas. Além de todas as buscas especializadas (web, imagem, livros, produtos, mapas, aplicativos, disco, gmail, agenda, etc...) o Google permite o uso com outras funcionalidades, tais como: favoritos, histórico, adsense, adwords, etc...
É fato que pessoas tornaram-se muito dependentes do Google quando pesquisam qualquer coisa na internet, isso é bom ou ruim na sua opinião?
Em tempos de internet, ficamos dependente de toda e qualquer funcionalidade que facilita nossas atividades, o que não nos furta de passarmos por dificuldades seja numa determinada funcionalidade ou outra. Mas caminhamos para uma conexão ininterrupta, e esse tipo de problema não existirá dentro em breve. Pra ser mais exato, em 10 anos teremos uma virtual conexão ininterrupta, por conta de dispositivos verdes e meios de alimentação com maior tempo de vida, até que essa conexão ininterrupta possa ser real.
Como as pessoas realizavam suas pesquisas na web antes da Era Google?
De uma forma inimaginável e insatisfatória para os internautas de hoje. Na gênese da busca os "motores mortos" eram "cavernas" digitais que continham listas específicas, elitizadas e finitas. Nestas listas constavam os sites conhecidos pela elite da área de TI da época. No entanto, um pouco antes do surgimento e da posterior popularização do Google, como motor de busca, os internautas tinham relações de sites insignificantes e sem nenhum tipo de análise de relevância, pois qualquer um que tivesse uma conta no concentrados de sites poderia cadastrar o seu. Também era uma época pouco frutífera e democrática da web, pois a maioria das pessoas não tinham condições sequer de ter um domínio.
Por que você é conhecido como Tio Google ou Googleman? :)
Talvez por que as pessoas são muito simpáticas comigo, talvez por que perceberam que o potencial de busca ainda é subutilizado. Talvez por que amigos me identificam com o Google em virtude do trabalho que desenvolvo para a divulgação do uso proficiente e avançado do motor de busca há 7 anos na área acadêmica. Pra você ter uma idéia, brincadeira ou não, até quando o Google "baleia" me ligam, me mandam e-mail, tuitam ou perguntam pelo Facebook o que está acontecendo com o Google. (risos)
Ao final da entrevista João indica o seguinte vídeo que explica o que faz do Google o melhor buscador, clique aqui.
Entre em contato com João, ele é super conectado! ;)

João Dinaldo Kzam Gama

Valeu João Kzam!


 Leia mais sobre buscadores e novas tecnologias para busca aqui no InovarEduca:

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um ato solitário


Não Ego (2009) Fernando Reis Viana Neto

Uma reflexão sobre a falta de comunicação entre as pessoas e a arte da escrita
Há livros, e textos que são extremamente egoístas, uma terapia individual, uma conversa consigo mesmo, algo que “a pessoa escreve para si própria”. Não é incomum ouvirmos um artista ou escritor dizer que “escreve para si mesmo”, numa tentativa de dizer que se compraz com a escrita e a exerce por que é o que sente que deve fazer. Pouco se importa se sua escrita comunica de fato. E deixa que o leitor ou apreciador de sua obra sinta-se livre para “entendê-la” como bem quiser.
Para desvencilhar-se do peso e do liame das palavras que racionalizam tudo e se fecham contra a intuição, a imaginação ou o prazer de sentir, muitos combatem a “explicação, o entendimento, o racional, o caminho já traçado, a falta de criatividade, de liberdade” que não são privilégios apenas de quem cria, mas de quem entra em contato com a criação. Acredito que se isentam da responsabilidade de comunicar algo. Isentam-se da magia de construir pontes. Trancam-se em seus castelos e contentam-se com admiradores que não conseguem ver que o rei está nu.
No entanto, existe outro fato nessa história: se alguém faz algo só para si mesmo e não se importa com o entendimento do outro, então porque tornar público – publicar? Há ou não há uma incoerência nisso?
Unknown Artists Cairo Egypt
Unknown Artists Cairo Egypt

“O homem procura dominar o mundo em que vive. Uma forma de ele ter esse domínio
Mas o que é domínio?
Domínio: Entre outras definições... “Ser de domínio público: ser sabido de todos; constar em público. Conhecimento”. (Michaelis)
é o conhecimento. Esse é um dos motivos pelos quais ele procura explicar tudo o que existe. A linguagem é uma dessas coisas. Ao procurar explicar a linguagem, o homem está procurando explicar algo que lhe é próprio e que é parte necessária de seu mundo e da sua convivência com os outros seres humanos. Por que falamos? Para que falamos? Como falamos? Por que as línguas são diferentes? O que são as palavras? O que elas produzem? De posse desse saber sobre a linguagem, o homem tenta domesticar seus poderes e trazê-los para si. Será que ele consegue?” (Eni Pulcinelli Orlandi)
Expressar e comunicar são a mesma coisa? Você já parou para pensar se há diferença entre essas duas ações?
Expressar: Exprimir. Exprimir, segundo o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caudas Aulete, é enunciar por meio de gestos ou palavras; manifestar, indicar, dar a conhecer; representar por meio de uma forma artística ou literária (determinada ideia ou pensamento); explicar-se; mostrar-se.
O Grande muro, Daniel Murgel
O Grande muro, Daniel Murgel

Há ai uma tentativa de indicar algo, permitir que esse algo seja conhecido para outras pessoas, representar algo de forma explicada, entendível... E mais ainda, tudo isso em torno de uma determinada ideia ou pensamento, não é algo aleatório, tudo o que é feito é feito a partir de uma intenção ou vontade. Existe uma concordância geral em favor de uma fome ou apetite que impulsiona o ato artístico, no entanto o que impulsiona a “publicação”. O tornar algo público. Saramago, em seu livro “Todos os Nomes”, nos diz que “o apetite, o apetite não depende da vontade de cada um, forma por si mesmo...”. Penso que se escrevo para mim e me basta o meu entendimento, não preciso e não tenho a intenção de publicar. Se quero publicar é porque desejo construir uma ponte, uma porta de entrada em uma casa ou labirinto. Mas para atravessar a ponte é preciso uma entrada. Para entrar na casa é preciso uma porta. Se eu fechar a obra pra mim mesma, se não houver uma porta, não posso acusar o outro de ignorante por não conseguir entrar.
My Castle Zigmunt Zaradkiewicz, Polónia
My Castle Zigmunt Zaradkiewicz, Polónia

Essa casa, essa obra, possui portas para entrada. E lá dentro existem espaços e mais portas. Há casas que se perdem em corredores que parecem infinitos com portas aos montes, nenhuma sinalização, e quem entra pode perder-se ali e talvez não encontrar uma saída que não seja lançar-se pela janela em um ato de desespero, prometendo a si mesmo nunca mais entrar ali. Labirintos... Mas é possível haver uma casa em que se pode visitar, explorar seus espaços, quartos, corredores, e ainda assim encontrar duas ou três de opções de saída, que te fazem feliz por lhe dar a liberdade de sair e voltar quando quiser.

Comunicar: tornar comum; participar, fazer saber; Pôr em contato, em relação, ligar, unir; transmitir, pegar por contágio; dar parte de, fazer tomar parte em; estar em correspondência; aproximar-se; propagar-se... (Caudas Aulete).
Como escritora me preocupo em manter a porta aberta...
O poeta, considerado corumbaense, Manoel de Barros encantou-se com os livros do padre Antônio Vieira: "A frase para ele era mais importante que a verdade, mais importante que a sua própria fé. O que importava era a estética, o alcance plástico. Foi quando percebi que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas com a verossimilhança." Um bom exemplo disso está num verso de Manoel que afirma que "a quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso." E quem pode garantir que não é? "Descobri que servia era pra aquilo: Ter orgasmo com as palavras." Dez anos de internato lhe ensinaram a disciplina e os clássicos a rebeldia da escrita.
Hands, Escher
Hands, Escher

"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes da Origem", da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento." (Fonte)
O poeta desconstrutor. Descontruiu a palavra tanta vezes, percorreu séculos atrás da primeira “careta” ou aparição sobrenatural de uma determinada palavra, pois voltando ao início era possível começar tudo novamente e reutilizar a palavra e observar se ela caminharia para o mesmo lugar.
Posso tomar sopa. Posso tomar carne? Posso tomar o corpo de alguém? Posso tomar gosto pela vida?
O verbo ainda é “tomar”...
“Uma vez atribuído um nome, ele passa a ter um valor na língua. Por isso, quando ouvidas, as palavras são logo associadas a seus objetos”, nos diz Eni no livro O que é linguística?
Desconstruir uma palavra, buscar sua origem é um trabalho para desassociar que vai limpando a palavra das imagens às quais foram associadas. Para uma boa comunicação utilizando-se a palavra é preciso permitir a comunicação, a participação do outro. Muitos escritores criativos buscam novas formas de se expressar por meio da escrita, e alguns conseguem isso mantendo a ponte firme. No entanto, outros caem na terapia individual, no monólogo, em um ato solitário.

Há o preguiçoso, o cientista da palavra, o descobridor e o ansioso. Nem tanto estudo e pompa que lhe cegue a vista para o orvalho, para o raro instante em que uma ave pousa em seu ombro, mas nem tão solto que ninguém te alcance...
Assim funciona a comunicação, desde a mais simples conversa até a arte.
"Quadro nenhum está acabado, disse certo pintor;
se pode sem fim continuá-lo,
primeiro, ao além de outro quadro
que, feito a partir de tal forma,
tem na tela, oculta, uma porta
que dá a um corredor
que leva a outra e a muitas outras."
(João Cabral de Melo Neto, "A Lição de Pintura")
The unexpected answer, René Magritte
The unexpected answer, René Magritte

Lygia Canelas
Bibliotecária e escritora, autora de "Vestígios".

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O museu é o mundo...


Hélio Oiticica
Hélio Oiticica

“Liberar a pintura dos seus antigos liames”...Antiarte...Antipintura...
“A obra nasce de apenas um toque na matéria. Quero que a matéria de que é feita minha obra permaneça tal como é; o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro: um sopro interior, de plenitude cósmica. Fora disso não há obra. Basta um toque, nada mais".
Essas foram palavras de um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros, Hélio Oiticica (1937-1980). Também foi engenheiro, professor de matemática, entomólogo, foi conhecido por teorizar sobre a antiarte e a antipintura, e realizar obras inovadoras e experimentais dentro da arte contemporânea brasileira e internacional.

Hélio Oiticica
Hélio Oiticica

Sua primeira exposição foi no Museu de Arte Moderna (MAM). Entre 1955 e 1957 desenvolveu uma pesquisa sobre pinturas geométricas sob guache e cartão, resultando em uma exposição que recebeu o nome de “Secos”, que integrou a Exposição Nacional de Arte Concreta, no Rio de Janeiro.
Hélio participou na Noite de Arte Concreta, evento polêmico que lançou o concretismo e confrontou a arte tradicional e seus seguidores. Foi um dos fundadores do Grupo Neoconcreto (1959), em que desenvolveu experiências ligadas ao concreto e ao neoconcreto, ao lado de Amilcar de Castro, Lygia Pape, Lygia Clark e Franz Weissmann.  Também participou da V Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e em 1960 trabalhou como auxiliar técnico no Museu Nacional, junto com seu pai José Oiticica, entomólogo e fotógrafo de renome.
Ainda na década de 1960 Hélio passou a desenvolver uma proposta de contemplação e apreciação estática das obras, um trabalho sensorial que envolvia os cinco sentidos e que continuou até o final de sua vida. Esses trabalhos foram conhecidos como Penetráveis e Bólides.

Penetráveis
Penetráveis

Penetráveis
Penetráveis

Penetráveis
Penetráveis

Penetráveis
Penetráveis

Bólides
Bólides


Em 1964 passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, tornando-se passista e integrando-se na comunidade do morro. Essa aproximação com a cultura popular deu origem a um dos seus mais famosos trabalhos: "Parangolés, obras polêmicas definidas pelo artista como "antiarte”... “é a incorporação do corpo na obra e da obra no corpo”, disse Helio.

Parangolés
Parangolés

Parangolés - Caetano Veloso
Parangolés - Caetano Veloso

Parangolés
Parangolés


Os trabalhos foram expostos no MAM, do Rio de Janeiro em 1965, no entanto os passistas da Mangueira que vestiam os parangolés foram proibidos de desfilar devido à natureza do projeto que preconizava imagens de revolta e possessão. Apesar da proibição Oiticica desfilou as obras no jardim do Museu. A partir desse ano o artista lançou-se internacionalmente e realizou a exposição “Soundings Two”, em Londres, ao lado de obras de Duchamp, Klee, Kandinsky, Mondrian, Léger, entre outras em Nova York e Pamplona, a partir dos fins dos de 60 e início dos anos 70.
Em 1967, Helio desenvolveu uma pesquisa intitulada supra-sensorial, em que foram criados os “bólides” da "Trilogia Sensorial", além dos penetráveis PN2 e PN3 que faziam parte da obra Tropicália, mostrada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no MAM, Rio de Janeiro. Vejam as imagens abaixo.

Penetráveis - PN2 e PN3
Penetráveis - PN2 e PN3

O cantor e compositor Caetano Veloso usou em um cenário de um de seus show uma bandeira de Helio: "Seja marginal seja herói". O show foi suspenso pela Polícia Federal. É importante ressaltar que Oiticica teve grande influência na música popular brasileira desse período.
O cinema também fez parte da vida de Helio, em 1972, produziu o filme Agripina é Roma - Manhattan.  Já em 1973 criou o projeto Quasi-Cinemas, inaugurado com a obra "Helena inventa Ângela Maria", material que homenageia a carreira da cantora Ângela Maria.
Em 1977 seguiram-se os penetráveis “Magic Square” e os objetos “Topological ready-made landscapes” foram expostos no Projeto Construtivo Brasileiro, MAM. E em 1979 Helio criou o seu último penetrável entitulado "Azul in azul".
Saiba mais:
Trailer do Filme de Ivan Cardoso "HO", que retrata a vida e a obra de Hélio Oiticica
Documentário (trailer) dirigido por seu sobrinho Cesar Oiticica Filho, que traz depoimentos raros do próprio artista e informações sobre suas obras.
Site do Projeto Hélio Oiticica, inaugurado em 1997.
O museu é mesmo o mundo...
Exposição - 2010
Exposição - 2010

Hélio Oiticica
Hélio Oiticica

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O bruto, o fragmentação e a representação


Fonte: https://www.facebook.com/Selvet.dk
Escopo x recursos x tempo=qualidade do produto/serviço. Durante muito tempo, envolvida nos paradigmas de gestão de projetos essa equação dominou as análises e decisões na hora de implantar, implementar e monitorar o desempenho de equipes. Na educação, hoje em dia, a palavra de ordem é gestão e números... Como um mantra mágico que pudesse resolver todas as mazelas do sistema. Falta na equação e nas ações em prol da educação um elemento chave - pessoas. Pessoas com vontade podem superar todas as equações e dogmas. Pessoas sem vontade podem atravancar tudo e fazer das grandes oportunidades, fracassos retumbantes. Não subestimem as pessoas (para o bem e para o mal) - jamais!
Resultados acima de tudo e a qualquer preço, dão exatamente nisso - resultados - a qualquer preço e acima de tudo - O problema é o que se paga e o que se perde pelo caminho com essa atitude.
Não precisamos mais da pressa em emoldurar resultados, para sossegar nossa mente com a falsa ideia de finalização de um processo, mas sim aprender a valorizar o processo e entender que cada pequenina fase dele é um começo/meio/fim/começo eterno e já apresenta “resultados”. E nada tem um fim. O universo é infinito. Os processos são contínuos, pois o ser humano evolui todos os dias e a sociedade descobre coisas novas e nunca está parada. O resultado que as pessoas esperam das coisas é sempre uma tentativa ansiosa de se chegar a um lugar, mas o lugar não importa mais do que o caminho e as pessoas que você encontrou nele, como você agiu, que escolhas fez, o que descobriu, o quanto errou, o que te acrescentou e que essa viagem, essa jornada será eterna enquanto você viver. E mais ainda, se sua jornada termina (com a morte?) o conhecimento ainda vive, seus registros, seu compartilhamento, suas experiências seguirão além da sua existência solitária.
“We delight in the beauty of the butterfly, but rarely admit the changes it has gone through to achieve that beauty”. Maya Angelou
Há muitas formas de ver e representar o mundo: as ciências, as artes, a religião... São apenas representações do mundo e não o mundo propriamente dito. Moacir - arte bruta, documentário de Walter Carvalho, mostra a representação do mundo de Moacir, não menos verdadeira e inteligente do que a nossa, mesmo que a primeira vista não se perceba isto...

Moacir tem 42 anos e vive com sua família, num recanto na porta do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, em que cultivam lavouras. Com problema de audição, de fala e formação óssea, ainda assim Moacir desenha incessantemente desde os 7 anos. Seu pai conta que o filho expressa o seu “mistério interior”, visões que aparecem em sua cabeça.
A arte de Moacir trazem símbolos de um mundo particular colorido e extraordinário que remetem à religião, ao erotismo e à fauna e flora da chapada.








A expressão arte bruta (em francês Art brut) foi concebida por Dubuffet, em 1945, para designar a arte produzida por criadores livres de qualquer influência de estilos oficiais, incluindo as diversas vanguardas, ou das imposições do mercado de arte. Dubuffet via nesses criadores - oriundos de fora do meio artístico, a exemplo dos internos em hospitais psiquiátricos - a forma pura e inicial de arte. (Wikipédia)
"A arte não vem quando chamamos e se deita nas camas que foram feitas para ela, ela foge assim que alguém pronuncia o seu nome: ela gosta de ser incógnita. Seus melhores momentos são quando esquece como se chama". Jean Dubuffet
O bruto é o inicial, o criativo, o natural. Aquilo que não teve “acabamento”. Não acabou, não se emoldurou segundo regras, dogmas, métricas, resultados, avaliações, o bruto é. Desse bruto se pode ver a verdade de cada um, a gana, o impulso, o que nos move. E com o tempo somos treinados a classificar o que sentimos, o que aprendemos, e perdemos a noção do bruto, do criativo, do natural e do quanto tudo aquilo que foi dividido já foi uma coisa só. E sendo uma coisa só fazia outro sentido. Um sentido natural e amplo.
A catalogação de informações visa sua fácil identificação e recuperação. A classificação científica ou biológica organiza espécies e as categoriza, tudo em prol de um sistema que permita o estudo de cada parte. Nesse momento é importante dividir para estudar, para compreender. Mas o funcionamento está no todo.
Dividir e classificar é um recurso de racionalização para compreender coisas muito complexas. O problema é que no meio do caminho as pessoas esquecem que isso é um artifício de pensamento (para uma etapa e um objetivo específico) e passam a tomar a representação da realidade pela realidade, que continua sendo sempre muito mais complexa.
Não funcionamos por partes, todas as partes juntas é que funcionam.  O ensino dividiu tanto as disciplinas, que nos dividiu também e nos fez esquecer o todo. Nos fez esquecer que o bruto, o natural é esse todo que funciona e é a realidade. Saímos da escola despreparados para a realidade, para o todo. Só entendemos por partes. Nos acostumamos a isso. E tudo o que não for previamente classificado e não tiver uma etiqueta, um rótulo, não é facilmente identificado por nós. Mas e a nossa intuição? E o nosso todo, não está funcionando? E Moacir?
Ele percebe, ele cria, ele funciona e percebe a realidade. Moacir foi classificado como deficiente mental, no entanto, ele não sabe disso. Eis a grandeza. Precisamos esquecer que fomos classificados previamente.
Assista ao trailer do documentário Moacir, de Walter Carvalho, aqui.
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Esse artigo é fruto de muitas discussões, conversas e encontros online entre Daisy Grisolia e Lygia Canelas (Equipe InovarEduca).
@DaisyGrisolia
@LygiaCanelas



A progressão continuada é a vilã da história?



Desde 1998 as escolas públicas no Estado de São Paulo adotaram a “progressão continuada” (ou como é mais conhecido “aprovação automática”) como procedimento que permite que alunos avancem para as próximas séries de ensino sem interrupções, mesmo que não tenham atingido notas altas.
O método de progressão continuada surgiu na década de 1960 e é fundamentado no fato de que o ritmo de cada aluno é respeitado, que a avaliação é realizada continuamente e durante todo o ano letivo e que dessa forma a autoestima do estudante é preservada. Existem alguns projetos em andamento para a otimização desse procedimento como, por exemplo, avaliações intermediárias mais aprofundadas e reforço na recuperação.
A progressão continuada é considerada uma experiência de sucesso em países como o Japão, a Suécia e a Noruega, todavia sabemos que são países com um nível de educação muito acima do nosso.
Esse procedimento vai contra a reprovação do aluno, e baseia-se no fato de que apenas reprovar e fazer com que o aluno “repita o ano” não resolverá suas dificuldades. No entanto, permitir que ele siga em frente e chegue até a universidade com deficiências educacionais básicas em leitura, interpretação, escrita e matemática, resolve?
A base estrutural não sofreu modificações consideráveis e essa aprovação automática tem levado cerca de 30% dos alunos a chegar até a sexta série do ensino fundamental sem saber ler ou escrever.
Em toda a rede pública estadual e municipal de São Paulo a progressão continuada é obrigatória, no entanto, cerca de 41% das escolas estaduais ainda trabalham com ciclos no Ensino Fundamental. NA Bahia, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Tocantins, todas as escolas são organizadas por séries, enquanto no Paraná e em Minas Gerais, existem escolas que trabalham com os dois sistemas. Os ciclos e séries possuem durações diferentes em cada estado.
Mas qual é a diferença entre ciclo e série? A divisão do ensino por ciclos dá uma ideia de mais tempo para ensinar todo o conteúdo e maior liberdade para inserir novos assuntos, respeitando cada turma, pois cada um aprende em um ritmo e cada grupo pode avançar mais ou menos. A divisão por séries é mais limitada em conteúdos programáticos fechados e tem uma duração anual. O sistema em série obriga a todos aprenderem a mesma coisa ao mesmo tempo sob a “pena” da repetição do ano escolar.
O que acontece na realidade é que todo o conteúdo, a formação dos professores e o sistema de avaliação ainda estão estruturados para o sistema em série. Para que o sistema tenha sucesso é preciso que a avaliação seja realizada continuamente e um sistema de reforço e recuperação esteja sendo desenvolvido paralelamente para auxiliar os alunos com dificuldades.
De acordo com o Censo Escolar de 2006, os ciclos são responsáveis por cerca de 9,2% de reprovação e 5,3% de evasão. Já a divisão por séries apresenta 15,5% de reprovação e 9,1% de evasão. De acordo com os “números” o sistema de ciclos parece otimista.
Os números fornecem estatísticas animadoras, mas o que realmente acontece é que os alunos com dificuldades passam de ano e carregam suas dúvidas consigo até a universidade.


O acesso às universidades privadas tem sido cada vez mais frequente devido aos baixos preços e ao aumento contínuo do número de vagas.
Resultado do Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “O Censo coleta informações sobre as Instituições de Educação Superior (IES), os cursos de graduação e sequenciais de formação específica e sobre cada aluno e docente, vinculados a esses cursos”. (Fonte)
Em 2009 o ensino público e privado, juntos, somavam 5,9 milhões de matrículas.


Erros de ortografia, dificuldades para interpretar textos e escrever ou expressar-se com coerência, são alguns dos problemas encontrados em estudantes que compõe os mais de 4 milhões de matriculados em cursos de graduação da rede privada de ensino superior. De acordo com o Censo da Educação Superior de 2010, desses 4 milhões, 783.242 estudantes são concluintes. Entre 2009 e 2010 o número de matrículas aumentou em mais de 300 mil, embora a quantidade de concluintes tenha diminuído.
“A popularização do ensino superior, com a abertura indiscriminada de faculdades ávidas por explorar um público de baixa escolaridade - que não consegue ingresso nas universidades de prestígio, mas sabe que o diploma é uma espécie de passaporte para melhorar o salário -, é vista como um dos fatores principais do fenômeno. Essas escolas, concluem os especialistas, se adaptaram confortavelmente a um mercado consolidado, e só reagirão diante da exigência sistemática por melhor qualidade, que deve vir do governo e dos próprios alunos”. (O Estado de S.Paulo)
Mas e na prática como esses alunos “aprovados” no ensino fundamental e médio, que chegam às universidades, concluintes e diplomados, são avaliados pelo Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional)?
Leia mais sobre o tema:

Ensinar o mundo ou aprender com o mundo?


Fonte: OLCP
Fonte: OLCP
Preste atenção nessa experiência: a One Laptop per Child (OLPC) projeto organizado por duas organizações norte-americanas, sem fins lucrativos, criada para supervisionar a criação de programas educacionais acessíveis dispositivos para uso em países em desenvolvimento, entregou várias caixas com tablets, carregados por energia solar e sem instruções de uso. Em poucos minutos crianças abriram as caixas e descobriram como ligar os aparelhos e começar a usar. Em poucas semanas as crianças apropriaram-se dos aparelhos, e já cantava o ABC na aldeia em que moram, descobriram a câmera e invadiram o Android.
O projeto da OLPC, liderado por seu fundador Nicholas Negroponte, está na Etiópia, em dois vilarejos isolados, com cerca de 20 crianças da primeira série, experimentando entregar tablets para as crianças, com alguns aplicativos carregados, para observar a ação delas diante dessa apropriação tecnológica. O objetivo é observar se se as crianças analfabetas, sem contato anterior com palavras escritas podem aprender a ler por si mesmos, experimentando com tablete, e seus aplicativos: o alfabeto, jogos, e-books, filmes, desenhos animados, pinturas e outros programas. Essas crianças nunca tiveram acesso a nada impresso ou escrito, nem mesmo embalagens de produtos.
Fonte OLPC
Fonte OLPC
Trata-se de uma nova experiência de alfabetização e aprendizagem a partir de novos recursos e mais do que isso, partindo da autonomia, necessidades e curiosidade das próprias crianças. Um dos garotos expostos ao projeto conseguiu, em poucos meses e sozinho, escrever a palavra leão, por meio de um dos aplicativos. As crianças também personalizaram totalmente a área de trabalho dos sotfwares de forma bastante criativa. Essa criatividade e autonomia na investigação era exatamente o que os organizadores do projeto entendem como essencial para o aprendizado.  No entanto, apesar do início positivo o projeto precisa de mais tempo para fornecer mais dados e resultados considerados promissores.
Nigroponte propõe uma nova forma de pensar o e-learning. Ele acredita que as crianças na Etiópia têm muito a ensinar ao mundo sobre como se faz Educação. Como medir a eficácia da educação no mundo? “O que você realmente quer medir é a curiosidade, a imaginação, a paixão, a criatividade e a capacidade de ver as coisas a partir de múltiplos pontos de vista. Mas isso é difícil de medir e mesmo assim, a avaliação será subjetiva. Então, em vez disso, medimos o que uma criança sabe, e do que podemos inferir que a criança aprendeu a aprender. Esta é a verdadeira aspiração que temos para os nossos filhos: aprender a aprender”.
Nicholas Negroponte
Nicholas Negroponte

Tendemos a acreditar que a memorização é boa, é como um exercício para a mente, nos diz Nicholas, mas isso é apenas conveniente. Você pode saber de cor algo que odeia.
E sobre pensar sobre o pensar? As crianças aprendem muito por si mesmas, mas agora a ideia é descobrir o quanto.  “Para responder a essa pergunta, voltamos nossa atenção para os 100 milhões no mundo todo crianças que não vão à primeira série. A maioria deles não vai porque não há escolas, não há adultos alfabetizados em sua vila, e há poucas promessas de que virão mudanças em breve. Meus colegas e eu começamos um experimento em duas aldeias, fazendo uma pergunta simples: as crianças podem aprender a ler por conta própria?”. Se o projeto der certo, será mais rápido atender as necessidades educacionais dessas  100 milhões de crianças dessa forma do que esperar ações concretas dos governos.


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