A cooperação é superior à competição

A cooperação é superior à competição e as tecnologias permitem cooperar em larga escala. (Manuel Castells). Em uma entrevista com o sociólogo espanhol Manuel Castells foram discutidos temas como a cooperação, a web 2.0, a educação, economia e política na sociedade da informação.

Manuel Castells

Acompanhe o que Castells trata no vídeo da entrevista, aqui.

Líderes de opinião na Web

Os métodos colaborativos estão demonstrando cada vez mais que funcionam na cultura, na economia, na produção artística, no ensino, e o que é mais interessante é que já se sabe disso há muito tempo. Existe um antigo texto de 1902, de Piotr Alexeyevich Kropotkin, sobre o valor da cooperação que o reflete a partir da cultura tradicional siberiana e onde se descobre que a cooperação é muito superior e até uma correção muito importante à competição.

O que move a internet e a comunicação móvel são os velhos princípios da cooperação, com grande escala, grande velocidade, com grande volume informacional tratado ao mesmo tempo. Inclusive a política pode ser realizada dessa forma. Se isso se refere à forma de se fazer política, depende muito de que tipo de política.

A política tradicional, de líderes políticos que permanecem no poder por cerca de 4 anos e que “seguem” um programa apresentado anteriormente. Esse tipo de política funciona muito mal na internet, mas costumava funcionar muito bem na televisão, por exemplo. A mensagem de um para milhões. Já na internet continuamente as pessoas podem postar mensagens, imagens e vídeos, criar blogs ou sites, e agora há uma voz plural, interativa e participativa!

Se existe hoje alguém, algum político que se atreva a realmente representar o povo e não somente dirigi-lo a partir do controle, bem, então a internet é um enorme instrumento de desenvolvimento político e que permite a essa pessoa ser capaz de ganhar batalhas com menos recursos em relação às máquinas políticas muito mais potentes. Esse é um exemplo nos Estados Unidos, Obama foi o primeiro presidente da era “Internet”. Sem a internet Obama nunca poderia ter sido elegido presidente e vencido a família Clinton.

A internet mobiliza as pessoas e principalmente os jovens que são os que estão sempre na internet e sabem tudo o que acontece. Ela amplifica as diferentes políticas, quebrando as estruturas autoritárias e democráticas tradicionais em que são de controle e liderança, e permite o desenvolvimento de estruturas abertas em que as pessoas intervêm ativamente nas campanhas.

A internet e as novas transformações sociais

Não podemos prever o futuro, mas podemos perceber o que já está acontecendo. Todos os espaços de fóruns para discussão, espaços políticos, espaços de relação social, de informação, espaços comerciais, tudo isso devido às tecnologias móveis está se difundindo no conjunto da sociedade e no conjunto de tudo o que fazemos. Vivemos no Eu++, ou seja nós “mais” toda a nossa rede de conexões, levamos essa rede conosco, estamos conectados, comunicados e isso muda nossa forma de aprender, de trabalhar, de diversão, de assistir TV, e obviamente a comunicação.

Isso não quer dizer que somente por ter a possibilidade tecnológica que estejamos utilizando-a de forma correta. Isso depende da capacidade cultural e educativa das pessoas e também das organizações que são capazes de adaptar-se a essas mudanças, como por exemplo as escolas. Os alunos utilizam suas tecnologias móveis fora da escola ao invés de haver uma integração e uma articulação desses espaços e recursos. A escola precisa abraçar as mudanças e não repeli-las. Vivemos em um mundo de extraordinária capacidade comunicativa e no entanto as organizações estão muito atrás do que poderiam fazer.

Crise econômica e nova economia

Toda inovação é risco, por definição. Caso contrário não seria inovação! É preciso sair da economia especulativa que está quebrando, e entrar em uma economia inovadora e produtiva de serviços. Castells acredita que o Estado precisa entender sua participação nisso, prevendo na economia uma parte de capital para suprir eventuais perdas que possam ocorrer com novas empresas e não apenas salvar bancos e outras organizações. O risco da especulação é diferente do risco da inovação. O risco da especulação precisa ser eliminado e o risco da inovação precisa ser protegido.

Educar os filhos na tecnologia

Não adianta de nada reprimir o contato dos jovens e das crianças com a internet, pois quanto mais se reprimir isso mais se adia o desenvolvimento de uma relação produtiva com a internet. Castells alerta que o grande medo dos pais de que seus filhos acessem conteúdo pornográfico ou de conteúdo sexual inadequado deve ser repensado, pois mesmo na escola os jovens aprendem e discutem esses assuntos com seus colegas de qualquer forma. O grande problema dos jovens em Cataluña (Espanha), por exemplo, é o alcoolismo entre os jovens. E não imagens obscenas na internet. Basta orientar esses jovens sobre os perigos da pedofilia assim como a orientação é feita para que não se abra a porta a estranhos. Não se impede a criança de sair de casa, mas sim a orienta para fazer isso da forma correta. Aqui se faz necessário a articulação entre filhos, pais, escola e internet. Dessa forma se pode orientá-los sobre como agir na internet e como agir nos finais de semana, por exemplo.