quarta-feira, 27 de junho de 2012

LINKANIA: A sociedade da colaboração

As possibilidades do virtual, da oportunidade para que algo aconteça, algo que ainda não existe, mas é possível, então existe... De alguma forma, na forma de hipótese, no virtual. Podemos dizer que a web nos permite realizar possibilidades? Assim surgiu o livro Linkania, do autor Hernani Dimantas (em parceria com a Editora Senac São Paulo e o projeto Escola do Futuro da USP), a partir das conversações em rede, uma possibilidade “para que potências separadas ou esquecidas fossem, num movimento próprio, se encontrando e atualizando as relações de forças pela web”. Ou seja, linkania é o acontecimento da relação do ser em rede. Do ser com possibilidades de relações nunca antes alcançadas na história da humanidade.

Linkar é o espaço no qual a informação se conecta, é o espaço informacional.(...) Falar de linkania é, sobretudo, abrir espaços para possibilidades nas quais reverbera uma “multidão hiperconectada”,
movimento de auto-organização do caos.(...) 
Tudo isso implica a participação ativa das pessoas em rede, uma troca generosa de links que catalisa a conversação, provoca e solidifica o engajamento em rede.
Hernani Dimantas

Relacionamos-nos em redes sociais muito antes do aparecimento da internet, “construímos” comunidades, mundos, conhecimento, desde que começamos a nos relacionar. “Pode-se dizer que atualmente vivemos numa rede social. Uma rede em movimento. Uma dinâmica que está sempre na ação, na necessidade de composição, na ideia de que sempre é possível ter um bom encontro numa relação para produzir algo junto”. A internet mudou nossa maneira de se relacionar, permitiu uma comunicação mais dinâmica, em “tempo real”, uma ideia de revolução e provocou ilusões e preconceitos nos quais estamos inseridos. Para desvencilhar-se das ilusões será necessário desconstruir a ideia (organização da sociedade atual e seus meios de comunicação) e entender como ela realmente se estrutura.

De todos os meios de comunicação a internet é o mais completo, e o mais complexo. Podemos dizer rapidamente para que serve a TV, o rádio, o telefone, mas e a internet? No cenário web temos de tudo um pouco, um pouco de rádio, TV, um telefone, e até uma máquina de escrever. Brilhantemente Dimantas nos explica que “participar da internet é deixar a rede participar de você. O compartilhamento é total. (...) Ela representa a recuperação da voz, a retomada dos “bazares conversatórios”, o encontro com uma sociedade digital propensa a compartilhar”. O autor compara o movimento da web com a agitação do xemelê, uma dança, um batuque que orquestra dados e máquinas, linkando pessoas, máquinas, softwares, links, inteligências, conversações e colaborações.


“A conversação na rede se dá a partir de uma ruptura do ser. O sujeito rompe definitivamente com a ideia de indivíduo, assumindo a multidão dentro de si. Nesse sentido, na internet somos todos links constantemente em relação. De outro lado, a interface dessas relações simbólicas também são ícones que nos norteiam na virtualidade desse espaço informacional”.

Espaços informacionais: comunidades virtuais




Uma comunidade virtual depende de uma forte afinidade entre os participantes, segundo o que nos diz Howard Rheingold, um grupo que irá manter a discussão viva que gire em torno de algo que interesse a todos.


“Assim, esse tipo de comunidade é composto por agregados sociais que surgem na rede quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante determinado período, com sentimentos humanos para formar redes de relações pessoais no espaço cibernético. Seria um espaço acolhedor, no qual nos sentimos abraçados, imersos na generosidade de poder compartilhar nossos sentimentos mais humanos. Essas ideias apontam no sentido contrário àquilo que é comum numa sociedade de massa, ou melhor, numa sociedade mediada pela produção capitalista, em que as relações não são mediadas pelo afeto, mas pelo poder, pelo dinheiro, pela
Exploração”.


“Na web existir é ser visto”


A relação entre visível e invisível não são contrárias, mas sim parte de uma equação onde um elemento contém o outro. Mas vamos pensar nessa relação um pouco mais: uma pessoa que não está nas redes sociais está invisível para toda a conversação que está rolando naquele espaço e tempo.


Uma produção coletiva é formada por diversas culturas e naturezas, é um movimento que se utiliza dos homens e das coisas, uma massa invisível em um primeiro momento, mas quando trabalha  e constrói algo em equipe tornam-se multidões invisíveis que mantêm vivas as multidões visíveis e vice-versa. E para intermediar as massas há homens com “dons” especiais, assim como os xamãs mediavam esse contato com o invisível, os usuários da web subjugam e estabelecem conexão, não com espíritos, mas com informações e meios conforme demandas e interesses. Assim são as redes sociais, aglomerados de links que se linkam por interesses em comuns, pessoas e coisas, interesses múltiplos e a mistura das pessoas, seus desejos com as coisas, o particular e o social e uma nova narrativa coletiva. “O princípio de que as pessoas estão conversando de forma diferente na internet nos leva a tentar compreender os espaços informacionais de outro ponto de vista. Numa internet cheia de trocas de informações, e-mails indo e vindo. Poesias, piadas, correntes, textos, artigos, pensamentos, listas, e-zines, Twitter, Orkut, YouTube, podcasts, newsletters e relacionamentos fazem parte do nosso cotidiano digital. Isso passou a ser normal a qualquer interneteiro. A expressão “web invisível” só faz sentido numa época em que a interface tecnológica não atende a todas as pessoas. Seja pelo gap econômico, seja pelo gap geracional”.

Hernani nos fala em uma web que é um caldo de culturas, um fluxo infinito de informações e muda a forma de relacionamento humano, diferente da qual estávamos acostumados. Para entender ainda melhor o que nos faz inseridos em uma comunidade na web, Hernani nos fala sobre os hackers, se você está envolvido nessa cultura, contribuindo para que ela cresça e se atualize, então as pessoas que também estão lá o chamam de hacker, e isso torna você um deles: a sua reputação precisa partir da afirmação feito pelo outro. Isso caracteriza a nomeação dos indivíduos em uma sociedade em rede

Hackers? Sim, hackers! Não entendemos como eles contribuem para uma sociedade da colaboração, mas "Fundamentados na apropriação da tecnologia, os hackers vão moldando um novo contrato com a sociedade. Acreditamos que a revolução digital deva ser traduzida como um ponto de fuga em que o conhecimento não deve ser propriedade de empresas ou governos, mas livre. Na cultura hacker, ética significa a crença de que o compartilhamento da informação é um poderoso e positivo bem. Na prática, isso significa um dever ético de trabalhar sob um sistema aberto de desenvolvimento, no qual cada um disponibiliza a sua criação para outros usarem, testarem e continuarem seu desenvolvimento. Conhecimento é um bem que não se perde, mesmo quando o compartilhamos. Esse pensamento é oposto à lógica do capital".


A revolução não televisionada


A internet difere da comunicação em massa, pois não provém de um para todos, ela é produzida por todos para todos a partir de um engajamento coletivo. O monopólio está enfraquecendo. “A conversa de muitos para muitos tem um alcance espetacular na relação de poder. Para Foucault, o poder provém de todas as partes, em cada relação entre um ponto e outro. “Essas relações são dinâmicas (móveis) e mantêm ou destroem os esquemas de dominação”. Diferente das antigas gerações hoje temos a independência de produzir informação, editá-la, publicá-la e comunicá-la trocando informação e conhecimento com as outras pessoas que também estão na web. "A revolução digital trouxe para as novas gerações a cultura do compartilhamento do saber". 


Essa hiperconexão compõe a internet, e o transporte de ideias e pensamentos pode ser modificado, reapropriado de diversas formas, como por exemplo, o banco que se utiliza disso para interagir com seus clientes, os grandes provedores atualizam cada suspiro da mídia de massa e uma pequena porção da internet têm se desligado dessa lógica do capitalismo imperialista, constituindo um ambiente de compartilhamento de informações e conhecimento em que o poder da voz está cada vez mais descentralizado e mais distribuído.


A palavra-chave da vez é compartilhar. "Compartilhar informações e saberes é o que tem permitido a maioria dos grandes avanços da ciência. Do mesmo modo que os pesquisadores aceitam que observadores examinem e utilizem suas descobertas em suas respectivas áreas de estudo, que testem e desenvolvam além do ponto em que se encontram, os hackers que participam do projeto Linux permitem que todos possam utilizar, testar e desenvolver seus programas. O espaço informacional de uma ética científica que, em programação, recebe o nome de código-fonte aberto ou open source". Sempre fizemos isso, o modelo aberto não surgiu ontem, ele sempre foi uma alternativa para um crescimento colaborativo onde as pessoas buscam por comunidades informacionais de seu interesse.


A abordagem acadêmica: as redes de Conhecimento 


Universidades ou comunidades? Vamos pensar um pouquinho... "Toda rede pressupõe determinado nível de troca de informações e, de alguma forma, contribui para a construção do conhecimento coletivo e individual. E é nesse ponto que o mundo acadêmico se confunde. A razão de existir das universidades é o conhecimento. E redes, invariavelmente, catalisam o conhecimento. Mas as comunidades têm outra razão de viver. O caminho do conhecimento pode ser até o melhor caminho, mas não é o objetivo. Em muitas situações, mobilização é a meta principal".


Para a academia a rede significa compartilhar informações e produzir conhecimento, mas para as comunidades e trabalhadores, a rede têm sido um espaço para mobilizar, ganhar força e crescer. Um precisa do outro, estudos colaborativos sendo publicados e mutirões, comunidades e passeatas se fortalecendo, servindo a propósitos comuns. 


Então, será que agora entendemos por que o conhecimento quer ser livre? Precisa ser livre?





Hernani é artista, escritor e ativista. Desde 1997 tem-se dedicado ao estudo, à discussão e à elaboração de projetos colaborativos em rede, publicando um número expressivo de artigos em livros, jornais e revistas sobre a Internet como um meio aberto à produção coletiva e destinado à troca de ideias e conhecimento entre as pessoas. Doutor pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Autor dos livros: Linkania: uma Teoria de Redes (2010) e Marketing Hacker (2003). Fundador e articulador do projeto MetaReciclagem. Fundador do lixoeletronico.org.


Site: http://metafora.me/



hdimantas@gmail.com
@hdhd




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